Depois dos destaques / piores filmes / menções honrosas e dos lugares 20-16, 15-11 e 10-6 da tabela, temos os meus cinco filmes favoritos de 2022. Temos o Norte da Europa e os Estados Unidos, temos indecisões millenials, sátiras aos ricos, terapias em torno de uma tragédia, memórias idílicas de Hollywood e um filme de fronteira ultra-original
5. A Pior Pessoa do Mundo, de Joachim Trier
Comecemos por fixar um nome: Renate Reinsve. Foi premiada em Cannes e encarna, na perfeição, as dúvidas existenciais dos millenials, apresentadas de forma delicada e sensível pelo norueguês Joachim Trier. A imagem pára, como o Mundo pára nos sonhos, e há descoberta romântica, dramas pujantes, intervenção social e humor satírico, com pontes com o próximo realizador desta lista. Pior Pessoa do Mundo é uma maravilhosa paleta da vida.
4. Triângulo da Tristeza, de Ruben Ostlund
Triângulo da Tristeza é uma grande paródia, um panfleto social ou uma ópera tragicómica? É de tudo um pouco em mais uma grande provocação de Ruben Ostlund. A espécie humana não é muito bem tratada e andamos entre o escárnio dos ricos a um certo olhar envergonhado sobre nós próprios. Com uma banda-sonora que embala o sarcasmo e um terceiro acto inesperado e que supera o final menos inspirado de O Quadrado, Ruben Ostlund serve-nos antes jantares antológicos. A proeza valeu-lhe a segunda Palma de Ouro em Cannes.
3. Mass – Reunião, de Fran Kranz
Uma sala e dois casais a lidarem com uma tragédia, sem banda-sonora, nem grandes artifícios. É isto, mas não é só isto. Para além de atravessar várias questões pertinentes, do uso indiscriminado de armas à saúde mental, passando pelo luto, a culpa ou a o papel da religião, Kranz usa alguns detalhes da encenação cinematográfica para aprofundar a claustrofobia desta “terapia”. Mass conta com um elenco extraordinário e tem aspectos em comum com Elephant ou Temos de Falar Sobre Kevin, mas extraímos algo mais positivo desta nova experiência devastadora.
2. Licorice Pizza, de Paul Thomas Anderson
Talvez seja o grande coming of age do último ano, na forma de um feel good movie maravilhoso. Arriscando trabalhar com actores pouco conhecidos e incluindo factores de realidade, como toda a família Haim a fazer… de família Haim ou actores famosos a desempenharem outras figuras de Hollywood, é mais um passo na genialidade de Paul Thomas Anderson. Tem travellings em que apetece saltar para dentro da tela, tem personagens com quem queremos conversar, tem uma banda-sonora de época pouco óbvia e devidamente enquadrada e é, dois depois de Era Uma Vez em Hollywood e um ano antes de Os Fabelmans, outra extraordinária carta de amor ao cinema.
1. Flee – A Fuga, de Jonas Poher Rasmussen
(na imagem) Chama-se Flee, mas é um filme de várias fugas. Há a fuga física de Amin, mas também a fuga aos preconceitos, a fuga à identidade do protagonista, recorrendo à animação, aos flashbacks e ao esforço de recriar a realidade, e, claro, a fuga às convenções. Desde A Imagem Que Falta, sobre o regime dos khmer vermelhos no Cambodja, que não via nada simultaneamente tão original e tão emotivo. Esteve nomeado para três Óscares bem diferentes (infelizmente, não venceu nenhum), mas Flee não é apenas um grande drama de língua dinamarquesa, um documentário especial ou um filme de animação invulgar. É, em termos globais, um filme absolutamente extraordinário.